quando te tocar
é pra alvoroçar os teus cabelos
eriçar teus pelos
molhar os teus mamilos de saliva
com essa língua viva
aqui na minha boca
o último goytacá
um feiticeiro – resistente
mastiga os mamilos da musa
armado de poesia até os dentes
Federico Baudelaire
por enquanto vou te amar assim em segredo como se o sagrado fosse o maior dos pecados originais
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023
o último goytacá
eclosão atlântica
o sal que escorre
sobre tuas costas
é mar de esperma
que vai fecundar
entre tuas coxas
mariscos ostras
peixes vários
na explosão das algas
quando o mar do cio
em eclosão atlântica
for comunhão de olgas
e as conchas grávidas
de sereias
parir em seus ouvidos
Federico Baldelaire
alfândega
alfândega
em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam Maydoida cigana
que me deixou no desconforto
Federico Baudelaire
Afrodite
Toda Nudez
Não Será Castigada
Afrodite
a nova pimenta do reino
nascida na espuma do mar
filha de Zeus ou Vulcano
na pele clara da gema
as brunas do oceano
na era Atena me disse
pra Hera nunca dissemos
em grego a deusa do amor
em romano sinônimo de Vênus
também a irmã de Helena
que ao filho de um outro rei prometeu
provocando a ira em Menelau
quando soube que Páris sou Eu
Dioniso das festas de Baco
do vinho dos ritos das juras
Afrodite em mim criatura
Bacante que o cosmo me deu
menina da ilha de Creta
mulher quando o vinho é na cama
a que sabe beber do que ama
sem pensar no que o deus Cronos secreta
Federico Baudelaire
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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023
federika lispector
naquela tarde em Teresina me lembro
eu ainda uma menina. no mercado municipal muita gente de luto. muitos fascistas
convictos. muitos cínicos perversos. e nós ali com poesia tentando desconstruir
o estado do Piauí que fora tomado pelos reacionários. os fantasmas de 64
rondavam as sepulturas. era dezembro de um quase janeiro que só depois em
fevereiro pude saber qualquer pedra de algum muro pode ser ponte pro futuro.
Federika Lispector
trampar
eu trampo
eu trempo
eu trimpo
eu trompo
eu trumpo
clarice falou da coisa
enquanto amavaviva
amava a coisa do jeito
de ser de clarive viva
a pele na carne do corpo
o osso medulativa
do jeito clarice de ser
o saldomaráguaviva
Artur dos Anjos
copacabana não me engana
toda sexta se faz de besta
me procura e diz que tem marido
mas quer aliviar sua fissura
quando eu gozar em teu umbigo
Federico
Baudelaire
teu corpo
é carne de manga
em meu pênis
viril enquanto sangra
quando beijo tua boca
enfurecido
rasgando por trás
o teu vestido
Artur Gomes
Do livro: Suor & Cio - 1985
gigi dos anjos
esta noite vou devorar
os lençóis da tua cama
pois assim o blues
ao invés de melo será drama
Gigi dos Anjos
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023
poética 2
poética
o poema fala do teu corpo
como se o tocasse
o reconhecesse em cada verso
cada palavra que sai da boca
como um canto bíblico
ou um louvor profano
no poema o corpo não tem panos
que lhe escondam a pele
é um peixe que flutua em águas calmas
é um pássaro que atravessa nuvens cinzas
um barco em alto mar de tempestades
o poeta que se transmuta em poesia
Artur Gomes
www.secretasjuras.blogspot.com
poética
poética
na pedra do sossego
eu me abstenho
na pedra do sossego
eu me abstrato
na argamassa dos teus olhos
me preservo
nos mamilos dos teus seios
me concreto
no cio do teu corpo
eu me retrato
Artur Gomes
www.fulinaimagens.blogspot.com
em cena
sobre a mesa um chocolate meio amargo e uma
garrafa de café. Clarice retocava a maquiagem enquanto pensava o chocolate em
sua boca, para ela comer chocolate é o mesmo que comer livros, mesmo que
Federico a imagine mulher doida, mas para ela tanto faz, dá no mesmo, e pare
ele isso é muito vago. a garrafa de café permanecia sobre a mesa sem que
ninguém a tocasse, todos os sentidos de Clarice estão voltados para o livro e o
chocolate.
lua cheia
lua cheia
tatuei com a língua a data
no teu corpo litoral – meu corpo em chamas
o mar lambeu o sal na concha
que plantei no teu umbigo
um palmo abaixo espumam ondas
por entre o vão de nossas coxas
Netuno aceso como um beijo de setembro
linguagem viva no temporal por onde for
eu sonho a lua quando cheia
que me transmuta pra compor
Artur Gomes
terça-feira, 14 de fevereiro de 2023
múltiplas poéticas
a dor do ciúme
érika era o azul
entre a serra e o vinhedo
a jura secreta
na carne das vinículas
nosso segredo sagrado
por entre as vinhas de Bento
o beijo quase rasgado
dentro das taças de vinho
e tanto amor prometemos
em rendas brancas de linho
érika era o azulzinho
por entre as tranças do vento
bebendo meu desalento
no interior da cozinha
e a mãe sôfrega na cama
ardendo o seu queixume
fazendo amor e
vertendo a dor do ciúme
Federico Baudelaire
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023
múltiplas poéticas
tenebroso é o ato de temer
não tenha medo
de correr o risco
enfrentar o corisco
sem receio de matar ou morrer
o diabo não é pavoroso
tenebroso é o ato de temer
Gigi Mocidade
https://www.facebook.com/gigimocidade/
Ademir Assunção - um dos grandes poetas da minha Antologia Pessoal
A farsa do amor
1
olho seco de cobra
morta —
chuva muito fina
agulhas
na carne viva
& você diz Amor
(velha senha secreta)
lambe as feridas
com língua de lixa
& tranca o trinco da jaula
2
não tente esse truque
outra vez
seja mais suja
meu doce amor
espete um alfinete
no olho do gafanhoto
toque fogo
nas asas de um anjo
capture vivo um ET
& o leve a um talkshow
mas não tente prender os lobos
quando for lua cheia
Ademir Assunção
sampa, 13.11.97
jura secreta 14
eu te desejo flores
lírios brancos margaridas
girassóis rosas vermelhas
tudo quanto pétala
asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema
eu te desejo emblema
deste poema desvairado
com teu cheiro teu perfume
teu sabor, teu suor tua doçura
e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos
eu te desejo e posso
palavrArte até a morte
enquanto a vida nos procura
Artur Gomes
foto.poesia
www.fulimaimagens.blogspot.com
na foto: May Pasquetti fotografada durante o XXIII
Congresso Brasileiro de Poesia - Bento Gonçalves-RS - outubro de 2015
fosse Alice
essa menina
brincando à flor da pele
com a menina dos meus olhos
seria eu um mar de abrolhos
pra molhar esses dois olhos
que me olham sem me ver
Federico Baudelaire
foto: Artur Gomes
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