Balbúrdia PoÉtica
geleia geral - relâmpagos
faíscas da surpresa
poesia ali na mesa
por mais que te amar
seja uma zorra
eu te confesso amor pagão
não tem de ter perdão pra nós
eu quero mais é teu pudor de dama
despetalando em meus lençóis
*
“Geleia geral” é um termo criado por Décio Pignatari. Com ele,
o poeta concretista definiu um Brasil que vivia ao mesmo tempo com as novidades
que surgiam, especialmente nas artes, no fim da década de 1960 e com as
tradições. Era o tropicalismo e o bumba-meu-boi ocupando o mesmo espaço-tempo e
se relacionando.
Torquato Neto e Gilberto Gil pegaram esse termo e fizeram a canção-manifesto de mesmo nome, que aparece no disco “Tropicália ou Panis et Circencis”, de 1968. E bem depois, em 1991, Daniela Mercury regravaria a música em seu primeiro trabalho solo, lançado pela Gravadora Eldorado. A arte está aí, para provar que o poeta nunca morre, só colabora com a geleia geral. – Rúbia me disse que Irina foi pra Itaipu onde as águas também são azuis, e agora o que faço? Voltar pra Itabira nem penso – amanhã vai te Balbúrdia no Carioca Bar em Campos dos Goytacazes para festejar o Bardo da Cacomanga - Luis Turiba dá o toque: “minha cuíca é do samba mas pode ser também do rock” Todo Dia É Dia Da Poesia Todo Dia, enquanto a Bric a Brac não vem me leiam no ArteCult.com – certa vez em uma viagem que fiz pra Sorocaba conheci Roberto Piva, na passagem por São Paulo, estava na rodoviária do Tietê me esperando para confessar as travessuras que tinha feito em Batatais, depois que descobriram o rapto de Antônio, o indiozinho caiçara – Gabriel de La Puente até hoje não dá notícias pra ninguém o nosso Ponte Grande, como gostava de afirmar Uilcon Pereira deve ter pulado para o outro lado do Rio – certa vez lá pelos idos do carnaval de 1984, Avyadores do BraZyl baixou na guanabara, foram para numa pensão ali na Saúde, quase embaixo dos arcos da Lapa, caminhavam quase todos os dias até Ipanema para encontrar o pai da Flora – Antes que me esqueça e esse frio não aqueça talvez no Pulo do Gato, você possa encontrar o que procura – ontem por exemplo não invento Luana traçou o meu destino caminha até o sino da Igreja de São Bento
*
e se tiver que me matar que seja
e ser eu tiver que te matar que morra
em cada beijo que te der amando
só vale o gozo quando for eterno
infernizando os céus
e santificando a boca do inferno
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poema em linha torta
geograficamente
lapa para mim são 3
em campos no rio e em sampa
em mil novecentos e noventa em seis
quando publiquei sampleando
pela primeira vez
uma ninfeta paulista
me perguntou onde era
a lapa do poema
de manguinhos lhe respondi
:
o poema pode ser um beijo em tua boca
há tempos não tenho paciência
para respostas concretas
se no poema o poeta faz referências
a estação da luz av. paulista
consolação água branca barra funda
essa lapa só pode ser em sampa
né cara pálida ninfeta analfabeta
Federico Baudelaire
viagem
a navelouca
atravessou o pontal em atafona
com destino a barra
à procura de Godot
passou por gargaú santa clara
entrou no ariticum macuco
traçou um risco
no centro urbano são francisco
voltou ao mar
sonho sossego guaxindiba
manguinhos buena almontado
tatagiba guriri lagoa doce
chegou a barra
e não encontrou o personagem procurado
rompeu a quarta parede do espírito santo
e até agora não voltou
Federico Baudelaire
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carne viva língua nua
carne viva língua nua
branca crua alva como lua
carnevale
carnavalha
carnaval
corpo a(teu)
vendaval que zeus nos deu
“é preciso estar atento e forte
não temos tempo de temer a morte”
também não sou cristão
como esses que se dizem
donos dos bons costumes
desse gigante adormecido
morto-vivo mesmo antes de parido
carolinas tive tantas
por estas tortuosas ruas
mas nenhuma delas
com a língua tão viva como a tua
Federico Baudelaire
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a dor do ciúme
érika era o azul
entre a serra e o vinhedo
a jura secreta
na carne das vinículas
nosso segredo sagrado
por entre as vinhas de Bento
o beijo quase rasgado
dentro das taças de vinho
e tanto amor prometemos
em rendas brancas de linho
érika era o azulzinho
por entre as tranças do vento
bebendo meu desalento
no interior da cozinha
e a mãe sôfrega na cama
ardendo o seu queixume
fazendo amor e
vertendo a dor do ciúme
Federico Baudelaire
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três personagens
à procura de um autor
li ontem alguns poemas
nem sei de quem eram
depois um texto longo
também nem sei de onde veio
aquele longo texto me dizia
:
estou dentro da garrafa
afogado na areia da praia
caramujos e mariscos
me engoliram quando mergulhei
na onde atlântica sem saber
não era pacífica era tempestade
trago riscos trago tragédias e risos
me procurem do outro lado da ponte
e lá que irão me encontrar
Rúbia Querubim
três personagens
à procura de um autor
peguei um texto aqui
com signos de comunicação
indeciflável
e ainda por cima sem assinatura
nem sei se é de poeta escritor
ou letra de algum cantor
só conseguir ler uma frase
pois não sei se podemos
chamar isso de verso
:
moro não é mais candidato
a presidente botou o rabo
entre os dentes trocou
até de partido para não ser preso
vai tentar cadeira na câmara
dos deputados esse brasil tá fudido
e não tem nada de engraçado
EuGênio Mallarmè
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nenhum rito nenhum mito
que isso aqui não é atenas
muito menos heras de grécia
itálias de venetto palanque pra prometeu
nenhum grito de miliciano
travestido de presidente
que mata em nome de deus
Gigi Mocidade
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O poeta enquanto coisa
Cristina Bezerra me disse
que trepo no corpo
das palavras
na desconstrução da normalidade
dos seus significados
o poema é um jogo de dedos
um lance de dados
e o poeta enquanto coisa
é mediúnico
amoral em sua estética
na transa poética
tudo o que sai do corpo
é o que já foi incorporado
atentado poético
a hipocrisia aqui é muita
liberdade muito pouca
com meus dentes de navalha
vou rasgar a tua roupa
esse poema beijo/bomba
vai explodir na tua boca
a flor da boca
ficamos duas horas em frente a casa velha aline perseguia os pássaros e eu comia o vento que passeava entre a pele eriçando os pelos ela me falou do prazer que ainda não tinha vivido e me mostrou a flor da boca tinha gosto de saudade o tempo da escrita e tudo que ali fizemos
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revirei sacramento pelo avesso do avesso aline me acompanhou passo a passo pela ladeira até a casa dos fundos canários no quintal catavam o que comer fotografamos e filmamos o que pairou no ar e não perdoa o éter dentro o cafezal nos convidava ao êxtase aline olhou pelo espelho da janela que dava para o outro lado da alma e levitou entre as trilhas dos canteiros ouvindo o som que nos unia
naquela noite de chuva
as cores no vestido de Yansã passaram despercebidas por aqui o sangue encarnado nas matas de Oxossi e o olho do Dragão na ponta da espada de Ogum ainda que aline na porta da casa velha tivesse sobre a pele meus olhos presos nas palavras escritas na parede as sagradas escrituras não dissessem o quanto ali brotavam flores naquela noite de chuva num coração estraçalhado
Artur Gomes
intervenção poética
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Buena à Vista - del Santa Cruz de La Sierra
Puerto Viejo - Bolívia - fronteiras com o Brasil/Pantanal
para Mocy Cirne - in Memória
aí Pedro Bial/TV Golpe - esse é o Rio de Janeiro que eu quero
quero um Rio de Janeiro
sem farda sem capacete
intervenção militar é o K ralho
não tente nos enganar
com essa carta do baralho
de olho na eleição
violência com violência
não se extermina nunca não
o chefe dos traficantes
mora nas Minas da conspiração
quero uma intervenção poética
bebendo o caldo da ética
embaixo os Arcos da Lapa
Cinelândia, Glória, Catete
Flamengo, Botafogo, Laranjeiras
Copacabana, Ipanema, Lagoa
Gávea até o baixo Leblon
quero a poesia vermelha
da tua boca de baton
da Rocinha ao Corcovado
da Maré a São Conrado
o olho no front da Barra
com toda palavrAção
no morro do Alemão
quero festa pra Bracutaia
nós vamos invadir sua praia
no grande mar da subVersão
dentro da carne que não sai
a carne de maçã: teu corpo devorei a cada dentada metáfora à flor da pele toda nua me recebeu na cama que era o chão da sala há 6 anos desejava teu corpo como quem deseja um prato de comida quando a fome é tonta nossa meta é física e o amor é quântico sem lucidez alguma até que passe a fome e o amor acabe
Artur Gomes Fulinaíma
www.fulinaimargem.blogspot.com
nem santa
nem puta
apenas filha
dessa ilha
seja do que for
Federika Lispector
A
travessia no inverso do meu tempo
sem lenço sem documento
janelas abertas ao vento
o poema freudelérico
não tem nada de pessoa
na vitrola rola um demônios da garoa
e o poema mete a língua
no avesso da linguagem
rasga os tecidos da mortalha
assombrado com o verbo desemprego
afia ainda mais a carnavalha
com sua faca de dois gumes
no descompasso do desassossego
Federico Baudelaire
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