terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Flávia Gomes - dois magníficos poemas

sacramentum amoris

 

havia o silêncio

cúmplice

das mãos

que se desejavam

em promessas incertas

de um futuro sedento

 

havia a distância

dos anos

medidos pela proximidade

dos sonhos

de pertencimento

 

havia planos

em poesias bagunçadas

pelos enganos

dos acontecimentos

trazidos pelo vento

havia o homem

a mulher

a maçã

e a serpente

todos dispostos

ao pecado bento

 

havia um deus

que deu de ombros

e caminhou

com seu plano

soberano

de advento

 

em enquadramento:

 

o carrasco

resignado em seu fardo

abastecido de sofrimento

a cruz

arrastada

em sua trajetória de tortura

como instrumento

a plateia

instituída em regras

de seu próprio

mandamento

o calvário

símbolo do

aviltamento

 

coube ao sepulcro

abrigar o amor

inaugurar o livramento.

 

Flávia Gomes


um cigarro e uma prece

 

antes que a luz nos invada

enquanto ainda dorme

a realidade

acendo o cigarro

 

te observo em procissão

ruas, veias e vielas

entregues aos contornos

dos corpos impressos

em emaranhados de algodão

 

tua ossatura pesada

agora flutua

leve

desguarnecida

entre estreitos fachos

que intensificam minha atenção

 

a cicatriz

as manchas da tua existência

desfilam nuas

livres

encarando corajosamente

minha resistência

 

te vejo

homem

em corpo e vigor

 

te vejo

menino

em sono profundo

esquecido do mundo

 

sentada sobre o parapeito

fumaça contra luz

em prece

 

sussurrei

 

tentação

livrai-me de culpas

autossabotagens

estamos fu(n)didos

Amém.

 

Flávia Gomes


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