sacramentum amoris
havia o silêncio
cúmplice
das mãos
que se desejavam
em promessas incertas
de um futuro sedento
havia a distância
dos anos
medidos pela proximidade
dos sonhos
de pertencimento
havia planos
em poesias bagunçadas
pelos enganos
dos acontecimentos
trazidos pelo vento
havia o homem
a mulher
a maçã
e a serpente
todos dispostos
ao pecado bento
havia um deus
que deu de ombros
e caminhou
com seu plano
soberano
de advento
em enquadramento:
o carrasco
resignado em seu fardo
abastecido de sofrimento
a cruz
arrastada
em sua trajetória de tortura
como instrumento
a plateia
instituída em regras
de seu próprio
mandamento
o calvário
símbolo do
aviltamento
coube ao sepulcro
abrigar o amor
inaugurar o livramento.
Flávia Gomes
um cigarro e uma prece
antes que a luz nos invada
enquanto ainda dorme
a realidade
acendo o cigarro
te observo em procissão
ruas, veias e vielas
entregues aos contornos
dos corpos impressos
em emaranhados de algodão
tua ossatura pesada
agora flutua
leve
desguarnecida
entre estreitos fachos
que intensificam minha atenção
a cicatriz
as manchas da tua existência
desfilam nuas
livres
encarando corajosamente
minha resistência
te vejo
homem
em corpo e vigor
te vejo
menino
em sono profundo
esquecido do mundo
sentada sobre o parapeito
fumaça contra luz
em prece
sussurrei
tentação
livrai-me de culpas
autossabotagens
estamos fu(n)didos
Amém.
Flávia Gomes
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