quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

múltiplas poéticas

 

VÊNUS EM TOURO (Poesia, 2021)

 

ORNELLA RODRIGUES

 

toda vez

que uma

lágrima

cai

ou meu gozo

explode

escrevo

um verso

as palavras

saem de mim

molhadas

como uma

enxurrada

que não consegui

conter

-

De um coração molhado, escorre um rio quente feito diamante derretido – das cores do planeta Vênus. Rio-desejo que percorre fomes, não para saciá-las, mas para desatar delas gemidos, frequências sonoras vivas de tudo que faz brotar: palavra. Mas rio que também seca, míngua, entre lunações que pulsam o tempo das saudades, ausências e medos. Sem, entretanto, jamais deixar de correr, jamais resignar-se, jamais desistir de entregar-se aos temporais de carnes famintas por voz e gozo. Vênus em Touro, de Ornella Rodrigues, é uma obra que tempera cada pedaço do que em nós é tesão, para devorar sem medo. Poesia que nos engole com lábios doces, sem mastigar, para sorver dos sexos tudo que é delírio e embriaguez. Pulsa um convite para a entrega, para a coragem dos mergulhos, para o encontro da água com as pedras. Labirinto feito pra se perder – dentro de onde vive seu Touro selvagem e ingovernável. - Raíssa Éris Grimm Cabra

-

Ornella Rodrigues tem 43 anos, natural de Santos\SP. Mulher de axé, feita no candomblé em Oxum e Oxalá, é escritora, poeta, fotógrafa e arte-educadora. Seu processo artístico dialoga entre versos e imagens, resgatando memórias afetivas do corpo e da alma. Em seus últimos trabalhos “Cartogra a afetiva, ancestralidade viva” e “Lua em exílio: amor em tempos de pandemia” (elaborados com fotos, vídeos e poesias), a artista revela sua busca por identidade, ancestralidade e, sobretudo, amor e afetividade. Possui um livro publicado intitulado “Como domar um coração selvagem”, lançado em 2018 pela editora Fractal, alguns trabalhos acadêmicos vinculados a movimentos sociais. Administra a página “Manual sobre amor e guerrilha”, que visa publicizar escritas de mulheres e participou de três antologias poéticas de mulheres negras em São Paulo/SP.

 

Capa Brochura - formato 14x21 cm - páginas 72

Claudinei Vieira – Desconcertos Editora 



Desencanto.

 

Já foi onda forte.
Mar revolto e revolta,
aqui dentro.
Mesmo em águas calmas,
sempre beirou correnteza.
Arrastando sonhos.
Desaguando lágrimas.
O pescador que vive de ilusões,
não teme o barco,
que pode virar,
nem da morte,
que pode lhe levar.
Mas um dia,
a noite vem.
E com ela, tormenta.
Que atormenta o coração.
Cobra escolhas na indecisão.
Pede luz na escuridão.
Nadar em alto mar,
sem proteção.
A procura de um tesouro perdido,
promessas de um livro,
que naufragou.
Ou atracar seu barco,
numa ilha qualquer.
E condenar se a solidão perpétua,
e serena.
Deixem que as ondas,
a levem às profundezas,
as tantas incertezas.
E beijem meus pés cansados,
pisando no calor da areia macia.
Embora a água não é doce,
e o sal queima.
Ainda assim,
acalma um coração aflito.
Conforta na rebeldia.
Talvez não seja nessa vida,
encontrar outro barco à deriva.
Então que se vá,
que se perca no mar.
Sonhar em vão,
é como pássaro,
comendo migalhas no chão,
deixadas pelos cães.
O pescador tem pressa,
de deitar na rede e descansar.
E não se preocupar,
se o sol vai brilhar,
se a chuva vai cair.
O encontro tão sonhado,
as vezes; não é pra todos.
Somente a morte é certa,
é rompante.

 

Rosana Venturini

operação de risco

 no Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim assumo o kabrunco como sobrenome de um dos 12 apóstolos de zeus na profana e canibalesca santa ceia para provocar os lobisomens assombrados espalhados pelos laranjais de são francisco

 

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https://arturgumes.blogspot.com/



ainda penso nela
quase piro
quase morro
sem ninguém
pra pedir socorro
nem um freudiano por aqui
pra me socorrer
vão me deixar morrer
nem marisa vieira
mayara ou bruna
muito menos jurema
cabloca de iracema
que amparou o dinamite
tanto faz que eu chore
tanto faz que eu pire
tanto faz que eu grite
posso morrer de ócio
posso morrer de cio
posso morrer de gripe
elas não estão nem aí
pro meu palpite
posso cheirar o bem-me-quer
ou mesmo as flores do mal
posso até dançar de buda
nesse próximo carnaval

Federico Baldelaire
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https://arturkabrunco.blogspot.com/



bruna

é quando a bruma

ainda espuma

espora e sal

em branca areia

eu encantado

        ela sereia 

Federico Baudelaire


ainda não sei
se baudelérico ou baudelírico
só sei que ando meio mallarmélico
completamente absurdado
com esse leite condensado
na minha língua do delírio

EuGênio Mallarmè

https://personasarturianas.blogspot.com/


 

Já notaram que ultimamente, quanto mais desprovida de talento e de beleza natural, a pessoa tem de se expor ao máximo e ultrapassar todos os limites da baixaria para atingir fama?

O que tem de gente feia e sem talento, mas se achando a Lady Gaga "não tá no gibi", como diria minha avó, que, diga-se de passagem, era um mulher lindíssima.

Na outra ponta deste desespero por atenção, esta Nita Strauss, esta simpática moça da foto, a qual, convenhamos, não lhe falta nenhum atributo físico admirável, certo?

Nascida em 7 de dezembro de 1986, Nita é considerada uma das maiores guitarristas do mundo, se destacando por seus trabalhos como guitarrista em turnês com Demi Lovato e Alice Cooper, além de ter uma carreira solo de sucesso.

Nita começou a tocar guitarra em tenra idade e desde então tem conquistado prêmios e reconhecimento por sua habilidade excepcional.

Entre seus prêmios, em 26 de janeiro de 2019, Nita foi homenageada no 7º Annual She Rocks Awards com o "Inspire Award", além disso, foi premiada com um anel do Super Bowl pelos Los Angeles Rams, em reconhecimento ao seu talento como uma das principais guitarristas femininas do mundo.

Sua versatilidade musical e talento inegável a tornaram uma figura proeminente no mundo da música, sem necessariamente ter de executar coreografias ginecológicas e nem urrar palavras de baixo calão.

Percebem a diferença entre o sublime e o ridículo?

 

Via A Toca do Lobo https://www.facebook.com/atocadolobomau


PULS.O.S. (Poesia, 2021)

 Dailor Varela

 

Meu nome;

nada além do que nomeia a dor

Lâmina de sol

esquarteja

o amanhecer

Flor de sangue

se multiplica

no nada da paisagem

______________

Trancado no quarto

imaginava cidades.

A mudez de meu pai passeava à beira-mar.

Peixes mortos e vísceras

num sujo oceano

____________________

Adubo utopias e papoulas

para meu íntimo o último grito

Na ácida ferrugem da tarde

Polir o aço do gatilho

Morto deixarei memórias

de letras e papéis.

Rascunho de sonhos

Espelhos quebrados

rasgam todos os dias.

Meu travesseiro de peixes e estrelas

 

Dailor Pinto Varela, jornalista, poeta, Nasceu em Anapólis (GO) em 10/06/1945 e faleceu em 15/04/2012 em São José dos Campos-SP, com treze livros publicados, a maioria de versos e de poemas visuais. Trabalhou na Imprensa de Natal. Em Paulo trabalhou na Revista VEJA e na Folha São Paulo. Editou com sua lha Maíra o tablóide cultural “O GRITO” em São José dos Campos, SP. Participou da campanha de alfabetização do sociólogo Paulo Freire nos tumultuados anos 60, quando estourou o Golpe Militar de 64. Também fez pesquisas de campo para diversos livros do folclorista Luís da Câmara Cascudo entre os quais “História da Alimentação no Brasil”. É citado nos livros “Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século” de José Nêumanne Pinto, Enciclopédia da Literatura Brasileira de Afrânio Coutinho, entre outros.

 Capa Brochura - formato 14x21 cm - páginas 100

 Claudinei Vieira – Desconcertos Editora 


DEPOIS

ainda é dia no meu corpo
quando recebo teu nome
em gotas de silêncio
derramado sob o sol
nenhum sussurro nasce da boca
minguada feito a lua
e anoiteço como escura catedral
[remanso de relicário e tecitura]
a água escorre até os pés
lava a carne viva
refletida em azulejos
leva teu claro cheiro rumo ao ralo
decanta emoções, desfaz vestígios
e sem teus rastros
a noite cai
numa mudez vasta, espessa
concreta como uma dor sem cura

recolho-me às águas e seus silêncios

 

Marcia Friggi

(Foto do Henrique Friggi)

Feliz por voltar a escrever com mais constância e disciplina depois do retorno às oficinas do Claudio Daniel . Obrigada, Mestre!



Eugénio de Andrade
*
É um fardo aos ombros
o corpo, sem ti.
Até o amarelo
dos girassóis se tornou cruel.
Não invento nada,
na arte de olhar
a luz é cúmplice da pele.


PRECIPÍCIOS TÃO PROPÍCIOS

No teto do céu
tentei pendurar precipícios
quem sabe a chegada ao chão
seja apenas um roçar de asas
a trocar de roupa
na dimensão da alma.

De que será feito o meu olhar
- mudo como um silêncio -
a se perder de vista
depois do teto do céu recortado em algodão?

No teto do céu
tentei pendurar precipícios
depois cortei minhas amarras com os dentes
era dura como arame
a corda que pendurava meus precipícios
- minhas amarras rangendo os dentes.

Estreita, tão estreita
a relação entre a minha distração
e um céu regado a precipícios tão propícios.

- por que precipícios
estão predestinados ao chão?

(
Nic Cardeal, 25.01.2019 - 📸 imagem do Pinterest) 


fulinaíma sax blues poesia

 

                     ela era Bruna

em noite de blues rasgado

soltou a voz feito Joplin

num canto desesperado

por ser primeiro de abril

aquele dia marcado

 

a voz rasgou a garganta

da santa loucura santa

com tanta força no canto

que até hoje me lembro

daquela musa na sala

 

com tua boca do inferno

beijando meus dentes na fala

 

Artur Gomes

Pátria A(r)mada – prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio – 2020

2ª Edição revista e ampliada 2022 – Desconcertos Editora

leia mais aqui

https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/



... velhos esqueletos verdes de antigos generais; vestidos de musgo e ranço desfilam pelas ruas. Múmias empoeiradas, em frangalhos, batem bumbos acompanhadas por fantasmas burocratas, saídos dos porões sombrios de um tempo morto, embrulhados em brumas, as acompanham em uma tétrica procissão...


William Sertório 


Íris

Este útero florido de rosas
Minhas mãos erguidas em catadupa de silêncios
O rasgo abrupto do destino estilhaçando
Denúncias em espera
Nos parapeitos da angústia
Transbordante deste chicotear constante
Onde me dás a beber licor.

E teus olhos intactos
Onde bebi goteiras de mar
Em minha íris rasgada
Beijada por feras
Roleta russa alucinante,
Escarlate onde perdi
A essência das rosas,
Onde me roubaram o negro
Das pérolas.

(Já perdi a noção do que é 'ser-se'
tendo a plena consciência neste momento
em que escrevo
de não 'ser' coisa nenhuma).

Adeus, meu amor.

Célia Moura, a publicar
Denis Buchel Photography



A Hora Íntima
(Vinícius de Moraes)

Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: — Nunca fez mal...
Quem, bêbado, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: — Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: — Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançara um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: — Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: — Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?


via Hélio Gomes pelo face


não houve acerto
entre fartura e ofício
a rota perdeu o rumo
o resto partiu a reta
o que falta eu sinto
e com isso eu finto
o que fácil me cala
e infiel me mata

mesmo que sentido
não haja bastante
e a foz talvez
não se alcance
fica esse arado
inscrito no rasgo
a fértil fúria
do acaso
de sermos isso
e mais nada
dois signos surdos
em mais uma dor suja
em busca do
súbito salto
da mais profunda
palavra

garbo gomes

Arte :
Ivo Machado


Valdir Rocha 

recife ontem

era só pedra da boa viagem

o mar fugiu do horizonte

e o carnaval está nos muros

e paredes que dançam

ao som dos maracatus

do mato

fotografei um retrato

nas ladeiras de olinda

mas não era linda a íris

na retina da menina

que pariu antes dos 15

 

Federika Lispector

https://fulinaimicamente.blogspot.com/


Cinzia Farina 



metáfora por metáfora

 

se ele pensa

também penso

mas não compenso

carência de ninguém

e vou além

do outro lado do carne

tudo o que está

dentro ou for do corpo

o que vai e vem n a hora do sexo

se não me agrada

meto a faca

corto metáfora por metáfora

o músculo/pênis

que não me deflora

 

Rúbia Querubim

https://porradalirica.blogspot.com/


Com Os Dentes Cravados Na Memória

 

A Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo, nasceu em dezemvro de 1990, durante uma viagem em que cia de Guiomar Valdez, levamos uma turma de estudantes da então ETFC(IFF), a Ouro Preto-MG, como premiação por terem vencidos a Gincana Cultural desenvolvida durante o ano, pelo Grêmio Estudantil Nilo Peçanha. Lá conheci Gigi Mocidade – A Rainha da Bateria, com quem vivi até 1996.

 

A Igreja Universal do Reino de Zeus, criei em 2002 durante a 1ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ, que foi realizada nas dependências do Ginásio de Esportes do então CEFET-Campos, onde na ocasião lancei o livro BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas.

O grande objetivo da IURZ é homenagear deuses deusas da África e Grécia para de alguma forma descobrir de onde vem as nossas ancestralidades. De alguma forma e em alguns momentos mitologia grega e africana se misturam e viajando metaforicamente nessas realidades reinventadas vim desaguar no Vampiro Goytacá canibal Tupiniquim.

 

Artur Gomes

https://arturgumes.blogspot.com/




Live em homenagem a Antônio Cícero

No próximo dia 23 às 16:hs à convite da minha amiga  Renata Barcellos BarcellArtes  estaremos nessa live em homenagem a memória de  Antônio ...